Por Neilson Gomes /
Luciano Serafim
A
Casa de Cultura Cidadã Urucum – Caccum realizou no sábado, 16 de julho, a
primeira Trilha Ecológica rumo à localidade do Galho Seco, a convite do Sr.
José Maciel Januário da Silva, o “Márcio”, presidente da Ascacel (Associação
Comunitária Antônio Celestino Lins) e um dos coordenadores do assentamento do
MLST (Movimento de Libertação dos Sem Terra) na localidade. Ele foi nosso guia
na primeira trilha, que rendeu muitos momentos de descontração e risadas
durante todo o percurso, no qual encontramos rios, bicas, serras lindíssimas,
nascente com água cristalina, matas... e a Natureza a todo momento demonstrando
a sua beleza e imponência.
Chegamos
primeiro à casa do senhor José Amaro Lira, o “Zé Amaro”. Um lugar encantador e
apesar do pouco tempo que estivemos com ele, descobrimos que é o principal
conhecedor das matas e plantas naquela localidade, e que o mesmo compreendeu a
importância de conviver em equilíbrio com a Natureza, retirando dela apenas o
necessário para sua subsistência e/ou da sua comunidade, protegendo sua área do
desmatamento, bem como reflorestando áreas já desmatadas. Um homem de vários
talentos, é também o principal construtor local, foi responsável pela
construção artesanal da casa de farinha, claro que auxiliado pela comunidade, e
construiu algumas engenhocas/mecanismos úteis para seu uso pessoal e uso da
coletividade.
Na
segunda casa em que chegamos, mesmo sem sermos conhecidos, convidados ou
esperados, fomos recebidos com um café da manhã de primeira linha pelo casal
Irmão Antônio e Irmã Anadeje, que nos receberam com aquele sorriso de boas
vindas, com aquele jeito humano e hospitaleiro de ser, que só o homem do campo
tem. Essa alegria toda, talvez por acordar toda manhã vendo e ouvindo o
espetáculo da Natureza, que é uma extensão do seu quintal.
É
comum ouvir coisas negativas sobre os sem-terras: que estes não trabalham, que
participam de um movimento que desafia a democracia e a ordem social, etc. São
alguns dos muitos comentários que geralmente desabonam o movimento.
Particularmente não sou estudioso do assunto, não tenho uma opinião formada,
também aqui não pretendo apoiar ou criticar o movimento, mas especificamente
fazer um relato real e sucinto do que vimos no Assentamento do MLST Galho Seco.
Encontramos
trabalhadores que abrem estradas manualmente, extensas áreas cultivadas na
enxada; muitas laranjas, abacaxis, bananas; pelo menos três casas de farinha
ativas na região; homens construindo escola para seus filhos, preocupados com a
preservação de suas matas, com o reflorestamento e com o lixo acumulado,
criando estratégias para melhorar a segurança no campo (assentamento);
cooperativismo; pessoas sorridentes e acolhedoras...
Infelizmente,
vimos também uma comunidade que necessita de melhor assistência do poder
público; vimos as culturas atacadas por diversas pragas, carecendo urgentemente
de assistência técnica especializada, bem como os insumos necessários para o
devido tratamento dessas lavouras.
Ouvimos
vários causos e histórias verídicas, além de coisas evidentemente inusitadas,
como a senhora que o poste de energia elétrica passa em frente a sua casa, mas
ela disse que não queria essa energia em sua residência, pois energia é “coisa
do capeta”. Contudo, no seu semblante percebemos que se tratava de uma pessoa
belíssima em sua simplicidade, o terreiro extenso limpo e impecavelmente
varrido, fechado por uma cerca de madeira em excelentes condições de
conservação.
Em
suma caminhar como fazíamos quando criança em meio a Natureza traz uma sensação
indescritível de felicidade, além da realização pessoal em compreender um pouco
melhor a vida em um assentamento produtivo como é o caso do Assentamento Galho
Seco. A Caccum fará novas trilhas, a próxima com previsão para o mês de outubro
do corrente, local ainda a definir, essa caminhada é aberta a não integrantes
da ONG.