terça-feira, 19 de julho de 2016

Trilha Ecológica do Galho Seco: avanços e desafios de uma comunidade em comunhão com a terra



Por Neilson Gomes / Luciano Serafim

A Casa de Cultura Cidadã Urucum – Caccum realizou no sábado, 16 de julho, a primeira Trilha Ecológica rumo à localidade do Galho Seco, a convite do Sr. José Maciel Januário da Silva, o “Márcio”, presidente da Ascacel (Associação Comunitária Antônio Celestino Lins) e um dos coordenadores do assentamento do MLST (Movimento de Libertação dos Sem Terra) na localidade. Ele foi nosso guia na primeira trilha, que rendeu muitos momentos de descontração e risadas durante todo o percurso, no qual encontramos rios, bicas, serras lindíssimas, nascente com água cristalina, matas... e a Natureza a todo momento demonstrando a sua beleza e imponência.
Chegamos primeiro à casa do senhor José Amaro Lira, o “Zé Amaro”. Um lugar encantador e apesar do pouco tempo que estivemos com ele, descobrimos que é o principal conhecedor das matas e plantas naquela localidade, e que o mesmo compreendeu a importância de conviver em equilíbrio com a Natureza, retirando dela apenas o necessário para sua subsistência e/ou da sua comunidade, protegendo sua área do desmatamento, bem como reflorestando áreas já desmatadas. Um homem de vários talentos, é também o principal construtor local, foi responsável pela construção artesanal da casa de farinha, claro que auxiliado pela comunidade, e construiu algumas engenhocas/mecanismos úteis para seu uso pessoal e uso da coletividade.
Na segunda casa em que chegamos, mesmo sem sermos conhecidos, convidados ou esperados, fomos recebidos com um café da manhã de primeira linha pelo casal Irmão Antônio e Irmã Anadeje, que nos receberam com aquele sorriso de boas vindas, com aquele jeito humano e hospitaleiro de ser, que só o homem do campo tem. Essa alegria toda, talvez por acordar toda manhã vendo e ouvindo o espetáculo da Natureza, que é uma extensão do seu quintal.
É comum ouvir coisas negativas sobre os sem-terras: que estes não trabalham, que participam de um movimento que desafia a democracia e a ordem social, etc. São alguns dos muitos comentários que geralmente desabonam o movimento. Particularmente não sou estudioso do assunto, não tenho uma opinião formada, também aqui não pretendo apoiar ou criticar o movimento, mas especificamente fazer um relato real e sucinto do que vimos no Assentamento do MLST Galho Seco.
Encontramos trabalhadores que abrem estradas manualmente, extensas áreas cultivadas na enxada; muitas laranjas, abacaxis, bananas; pelo menos três casas de farinha ativas na região; homens construindo escola para seus filhos, preocupados com a preservação de suas matas, com o reflorestamento e com o lixo acumulado, criando estratégias para melhorar a segurança no campo (assentamento); cooperativismo; pessoas sorridentes e acolhedoras...
Infelizmente, vimos também uma comunidade que necessita de melhor assistência do poder público; vimos as culturas atacadas por diversas pragas, carecendo urgentemente de assistência técnica especializada, bem como os insumos necessários para o devido tratamento dessas lavouras.
Ouvimos vários causos e histórias verídicas, além de coisas evidentemente inusitadas, como a senhora que o poste de energia elétrica passa em frente a sua casa, mas ela disse que não queria essa energia em sua residência, pois energia é “coisa do capeta”. Contudo, no seu semblante percebemos que se tratava de uma pessoa belíssima em sua simplicidade, o terreiro extenso limpo e impecavelmente varrido, fechado por uma cerca de madeira em excelentes condições de conservação.
Em suma caminhar como fazíamos quando criança em meio a Natureza traz uma sensação indescritível de felicidade, além da realização pessoal em compreender um pouco melhor a vida em um assentamento produtivo como é o caso do Assentamento Galho Seco. A Caccum fará novas trilhas, a próxima com previsão para o mês de outubro do corrente, local ainda a definir, essa caminhada é aberta a não integrantes da ONG.






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